Já vimos que, no Brasil, um dos grandes desafios para a adoção das métricas alternativas é popularizar o uso de identificadores únicos como o DOI em artigos publicados pelos periódicos científicos.
Porém, existem outros aspectos importantes em discussão na comunidade acadêmica internacional em relação aos desafios à plena adoção da altmetria.
Por exemplo, existe uma preocupação referente à velocidade de produção das métricas alternativas. O que para os defensores da altmetria é tido como uma vantagem – ter acesso às reações do público em um curto espaço de tempo após a publicação – é visto pelos mais conservadores como algo perigoso. Sem dúvida, a popularidade imediata de um artigo acadêmico pode ter outros motivos além de, ou desvinculados, de sua qualidade ou mérito científico, como um título chamativo (“Shaping the oral microbiota through intimate kissing”), um tema polêmico (“Computer-based personality judgments are more accurate than those made by humans”) ou um assunto de apelo geral (“A new antibiotic kills pathogens without detectable resistance”). [1]
A principal preocupação da ala conservadora a esse respeito, no entanto, está ligada ao tempo necessário para que o trabalho seja citado e que essas citações sejam capturadas pelos sistemas tradicionais de indexação. No fundo, essa preocupação só faz sentido caso a proposta da altmetria fosse substituir as métricas tradicionais. Mas em um cenário onde o seu papel é complementar, a velocidade deveria ser vista como uma virtude.
Outro aspecto ligado a temporalidade tem a ver com a efemeridade dos dados em que se baseiam as métricas alternativas. Hoje em dia, mede-se a quantidade de visualizações e menções em redes sociais como Facebook e Twitter, e serviços acadêmicos como Mendeley e CiteULike. Se pensarmos no cenário das mídias sociais dez anos atrás, nenhum desses serviços sequer existia, e provavelmente estaríamos medindo o número de visualizações no Orkut ou MySpace, sendo que, hoje em dia, o primeiro já não existe e o segundo perdeu sua relevância como rede de comunicação social. Como vamos lidar com essa vulnerabilidade ainda é uma questão em aberto.
As próprias ferramentas de altmetria vêm mudando e se adaptando a novas necessidades e desafios, são adquiridas por empresas que demandam mudanças em seu foco ou em sua operação, ou simplesmente desaparecem do mercado por falta de recursos ou engolidas pela concorrência. No cenário atual, não há garantias de que os principais provedores de altmetria continuarão no mercado daqui a 5 ou 10 anos.
Muito se discute também sobre a possibilidade de manipulação dos dados. Da mesma forma que isso pode ocorrer com citações formais em artigos de periódicos, é possível que alguém tente inflacionar artificialmente o número de menções a um artigo a fim de melhorar seus indicadores. Porém, esse tipo de fraude pode ser facilmente detectada por programas de rastreamento de dados. As próprias ferramentas de altmetria possuem mecanismos para identificar e corrigir esse tipo de comportamento anormal na frequência de acessos.
Também por esse motivo, é importante analisar não somente a pontuação obtida ou volume de ocorrências de menções a um artigo, mas também investigar os dados por trás desses números, como o histórico de quem comentou o artigo e o que foi dito a seu respeito.
Na verdade, a maior parte das discussões sobre a possibilidade de manipulação de dados na altmetria vem diretamente dos defensores das métricas alternativas, como parte da explicação sobre suas abordagens para a coleta e medição da atividade online (ROEMER; BORCHARDT, 2015), e reforçando que todos os dados que compõem as métricas alternativas devem poder ser auditados e rastreados até sua fonte original.
Existem ainda considerações políticas que podem causar limitações na aplicação das ferramentas de altmetria, sobretudo para os países periféricos. Um exemplo é o viés em favor da língua inglesa tanto em relação às publicações que são cobertas pelas ferramentas como às fontes onde essas publicações são mencionadas. Outro exemplo é o risco de confiar em ferramentas comerciais estrangeiras, que tem seus próprios interesses, limitações e inclinações. Ou seja, no fundo, é o mesmo tipo de crítica feita a Web of Science, Scopus e Google quando se trata de métricas tradicionais.
Mas voltando ao Brasil, o maior desafio para a adoção e uso das métricas alternativas é a institucionalização das novas práticas de pesquisa online pelos diversos atores da comunicação científica. Enquanto a contagem de citações for a principal referência de qualidade da produção acadêmica e os artigos de periódicos continuarem a ser o principal produto de pesquisa utilizado para julgar a produtividade de autores e seu mérito em processos admissionais, promoções e concessões de subvenções e bolsas, existe o risco de não haver adoção em larga escala das ferramentas de altmetria para avaliar resultados de pesquisa (BARROS, 2015).
BARROS, Moreno. Altmetria: métricas alternativas de impacto científico com base em redes sociais. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 20, n. 2, p.19-37, abr./jun. 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1981-5344/1782>. Acesso em: 03 jan. 2016.
ROEMER, Robin Chin; BORCHARDT, Rachel. Issues, controversies and opportunities for altmetrics. Library Technology Reports, [S.l.], v. 51, n. 5, p. 20-30, jul. 2015. Disponível em: <https://journals.ala.org/ltr/article/view/5748>. Acesso em: 21 set. 2015.