As métricas alternativas, ou altmetria (do inglês, altmetrics), são indicadores da comunicação científica que ajudam a entender como os resultados de pesquisa são vistos e usados em ambientes online, complementando a análise tradicional baseada na contagem de citações. As métricas alternativas medem a atenção recebida por produtos de pesquisa acadêmica em fontes não-tradicionais, a partir de dados de interações na web, como menções, compartilhamentos, visualizações e downloads de produtos de pesquisa acadêmicos em redes sociais, sites de jornais e revistas, blogs e gerenciadores de referências.
O termo altmetrics foi cunhado por Jason Priem em 2010, em uma postagem em sua conta do Twitter (FIGURA 13), e o conceito foi consolidado em seu artigo “Altmetrics: a manifesto” (PRIEM et al, 2010), no qual estabelece as métricas alternativas como uma resposta à crise dos três principais filtros da ciência – a revisão por pares, a contagem de citações e o fator de impacto – frente ao movimento de migração dos cientistas para o ambiente online. Além de ser usado para descrever as próprias métricas, o termo altmetria também é definido por Priem, Groth e Taraborelli (2012) como “o estudo e uso das métricas de impacto acadêmico baseado em atividades em ferramentas e ambientes online”.
Primeira menção do termo “altmetrics”
Fonte: Twitter
É curioso notar que uma das motivações do manifesto da altmetria vem da necessidade de criar um mecanismo que auxilie os pesquisadores atuais a filtrar as fontes de informação mais relevantes e significantes, mesma motivação de Eugene Garfield ao elaborar a ideia de um índice de citações nos anos 50.
As métricas alternativas não criaram nenhum comportamento novo entre os pares, mas tornaram possível medir práticas comuns que já existiam na comunidade acadêmica. Há séculos, pesquisadores e outros estudiosos trocam recomendações sobre os artigos que leem, comentam resultados de estudos, compartilham cópias de trabalhos, endossam descobertas, etc. O surgimento da internet, do correio eletrônico e de listas de discussão ajudaram a agilizar essa troca de informações, e mais recentemente, o uso de redes sociais para o compartilhamento de informações passou a deixar rastros visíveis que finalmente permitem que possamos medir e reportar a quantidade e a qualidade dessas interações, complementando os resultados e análises que antes estavam restritos somente à contagem de citações.
Para entender a necessidade do surgimento de métricas alternativas, podemos pensar em outra métrica mais próxima da nossa realidade: o IBOPE. Antes do surgimento do rádio e da TV, não havia a necessidade de uma metodologia para a medição da audiência de programas ou de emissoras de comunicação. Conforme essas mídias foram se popularizando, houve um aumento do interesse das emissoras e de seus anunciantes em conhecer melhor o comportamento dos ouvintes e telespectadores com quem interagiam, e foi para atender a essa demanda que criou-se o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, ou IBOPE.
Com o tempo, o conhecimento adquirido pelo instituto IBOPE na medição de audiência também passou a ser aplicado a outras áreas, como a pesquisa eleitoral e de mercado consumidor. Ou seja, o surgimento dos índices de audiência de programas de TV e rádio, assim como acontece agora com as métricas alternativas, veio da necessidade de atender a uma demanda de investigação e análise de novos comportamentos que se consolidaram na sociedade.
As métricas alternativas permitem que os pesquisadores vejam onde e por quem seu trabalho está sendo visto, compartilhado e discutido no ambiente onde essas interações ocorrem. E nesse ponto, é importante reconhecer que as menções de produtos de pesquisa em mídias sociais estão sendo criadas tanto por pesquisadores usando ativamente as redes sociais para comunicação científica como pelo público em geral (HOLMBERG, 2016).
Um dos principais equívocos em relação às métricas alternativas é pensar que esses indicadores tem a intenção de substituir os indicadores bibliométricos tradicionais. Na verdade, as métricas alternativas são um complemento adequado para medir e avaliar o impacto da produção científica, considerando a atual velocidade da comunicação e o uso de tecnologias pela comunidade acadêmica, revelando novas dimensões do impacto da produção científica tanto na esfera acadêmica como fora dela, junto ao público não-especializado.